Supercrescimento bacteriano do intestino delgado (SIBO): Recomendações

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Supercrescimento bacteriano do intestino delgado (SIBO): Diagnóstico, manejo e o contexto Brasileiro

O supercrescimento bacteriano do intestino delgado (SIBO, do inglês Small Intestinal Bacterial Overgrowth) é uma condição caracterizada por uma população bacteriana excessiva no intestino delgado, frequentemente envolvendo microrganismos normalmente encontrados no intestino grosso. Essa disbiose leva a sintomas como distensão abdominal, diarreia, dor abdominal e desnutrição, impactando significativamente a qualidade de vida dos pacientes. Apesar de sua relevância clínica, o SIBO permanece subdiagnosticado e pouco compreendido, especialmente no Brasil, onde faltam dados epidemiológicos e diretrizes padronizadas. Este artigo explora a fisiopatologia, o diagnóstico e o tratamento do SIBO, com foco no contexto da saúde brasileira.

Fisiopatologia e fatores de risco

O SIBO surge de um desequilíbrio no ecossistema microbiano do intestino delgado, frequentemente devido a alterações na motilidade gastrointestinal, na função secretora ou nas defesas imunológicas. Os principais fatores de risco incluem:

  1. Distúrbios da Motilidade Gastrointestinal: Condições como diabetes ou uso crônico de opioides podem prejudicar o complexo motor migratório (CMM), levando à estagnação bacteriana.
  2. Redução da Secreção de Ácido Gástrico: O uso de inibidores da bomba de prótons (IBPs) e a hipocloridria reduzem a acidez estomacal, facilitando o supercrescimento bacteriano.
  3. Alterações Estruturais: Estenoses, divertículos ou alterações cirúrgicas (como bypass gástrico em Y-de-Roux) criam ambientes propícios à estase bacteriana.
  4. Disfunção Imunológica: Deficiências na imunidade intestinal, incluindo a redução de IgA secretora, podem predispor ao SIBO.

O SIBO frequentemente coexiste com outros distúrbios gastrointestinais, como síndrome do intestino irritável (SII), doença inflamatória intestinal (DII) e doença celíaca, complicando o diagnóstico e o manejo.

Epidemiologia

Globalmente, a prevalência do SIBO varia entre 2,5% e 22%, com taxas mais altas em idosos e indivíduos com comorbidades. No Brasil, estudos limitados sugerem uma carga significativa, especialmente entre populações vulneráveis. Por exemplo, um estudo encontrou uma prevalência de 30% de SIBO em pacientes brasileiros com doença de Crohn, enquanto outro relatou taxas de 56% e 64% em pacientes com sintomas gastrointestinais utilizando testes respiratórios. No entanto, a falta de critérios diagnósticos padronizados e métodos de teste variados complicam a pesquisa epidemiológica.

Apresentação clínica

O SIBO se apresenta com sintomas inespecíficos, como distensão abdominal, dor abdominal, diarreia e perda de peso. A diarreia é o sintoma mais fortemente associado ao SIBO. Casos graves podem levar à desnutrição, deficiências nutricionais e sintomas neurológicos, como “névoa cerebral”. Dada a sobreposição com outros distúrbios gastrointestinais, o SIBO deve ser suspeitado em pacientes com fatores de risco, como distúrbios de motilidade, alterações na anatomia gastrointestinal ou deficiências imunológicas.

Diagnóstico

O diagnóstico do SIBO requer testes objetivos devido à natureza inespecífica dos sintomas. O padrão-ouro é a cultura do aspirado do intestino delgado, com limiares de ≥10⁵ UFC/mL para aspirado jejunal e ≥10³ UFC/mL para aspirado duodenal. No entanto, esse método é invasivo, caro e não amplamente disponível.

O teste respiratório, que mede hidrogênio (H₂) e metano (CH₄) produzidos pela fermentação bacteriana, é a ferramenta diagnóstica não invasiva preferida. Um aumento de ≥20 ppm em H₂ ou ≥10 ppm em CH₄ em relação à linha de base dentro de 90 minutos indica um resultado positivo. Apesar de sua praticidade, o teste respiratório carece de padronização, e a interpretação dos resultados pode variar.

Tratamento

O tratamento do SIBO tem como base a terapia com antibióticos, visando reduzir o supercrescimento bacteriano e aliviar os sintomas. A rifaximina, um antibiótico não absorvível, é o tratamento de primeira linha devido à sua eficácia e perfil de segurança favorável. Nos casos em que a rifaximina não está disponível, antibióticos sistêmicos como ciprofloxacino ou metronidazol são recomendados.

A recorrência é comum, especialmente em pacientes com fatores de risco subjacentes, como uso crônico de IBPs ou distúrbios de motilidade. Abordar essas condições predisponentes é crucial para o manejo a longo prazo. Probióticos e intervenções dietéticas, como a dieta low-FODMAP, podem proporcionar alívio sintomático, mas faltam evidências robustas para seu uso rotineiro.

Desafios no Brasil

No Brasil, o manejo do SIBO enfrenta vários desafios, incluindo acesso limitado a testes diagnósticos, falta de diretrizes padronizadas e dados epidemiológicos locais insuficientes. Essas lacunas resultam em protocolos de tratamento heterogêneos e disparidades no cuidado. Para enfrentar esses problemas, é urgente a necessidade de coordenação nacional e adesão a diretrizes padronizadas, garantindo um cuidado uniforme e melhores resultados para os pacientes.

Conclusão

O SIBO é uma condição complexa com implicações significativas para a saúde e a qualidade de vida dos pacientes. Embora os testes respiratórios e a terapia com antibióticos ofereçam caminhos eficazes para diagnóstico e tratamento, persistem desafios na padronização do cuidado, especialmente no Brasil. Pesquisas aprimoradas, melhores ferramentas diagnósticas e estratégias de tratamento personalizadas são essenciais para otimizar o manejo do SIBO e atender às necessidades únicas da população brasileira. Ao promover a colaboração entre profissionais de saúde e pesquisadores, o Brasil pode preencher as lacunas no cuidado do SIBO e melhorar os resultados para os indivíduos afetados.

  1. Silva BCD, Ramos GP, Barros LL, Ramos AFP, Domingues G, Chinzon D, Passos MDCF. DIAGNOSIS AND TREATMENT OF SMALL INTESTINAL BACTERIAL OVERGROWTH: AN OFFICIAL POSITION PAPER FROM THE BRAZILIAN FEDERATION OF GASTROENTEROLOGY. Arq Gastroenterol 2025 Feb 17;62:e24107.

Last update: 22 February 2025, 19:45

DR. CHRIS ZAVOS, MD, PHD, FEBGH

Gastroenterologist - Hepatologist, Thessaloniki

PhD at Medical School, Aristotle University of Thessaloniki, Greece

PGDip at Universitair Medisch Centrum Utrecht, The Netherlands

Ex President, Hellenic H. pylori & Microbiota Study Group